sábado, 7 de novembro de 2009

A nada óbvia conquista do Dr. Galo






Alice não era bela por natureza, possuía alguns atributos que lhe conferiam certo ar de sedução e volúpia. O que lhe faltava em beleza sobrava em um mente vivaz e ligada em tudo o que acontecia ao seu redor. O meio digital era um universo sem fronteiras para ela e lhe proporcionava encontros mentais, criativos e imaginativos que lhe atraiam desde que se percebera mulher, e terminava em encontros que a forjariam fêmea.
Dr.Galo era um homem bonito, simpático e como já dizia seu nome, adorava uma galinhagem. Inteligente e conquistador usava flores e seu melhor sorriso para seduzir. O universo digital para ele era uma forma de afugentar a solidão e fazer conquistas... umas virtuais, outras bem pessoais.
Numa tarde morna de domingo, entre uma e outra piada sem graça do Faustão eles se encontraram na net. Despretensiosamente conversaram algumas horas e combinaram um encontro.
Para Alice a aventura já começou ao montar na moto dele... Já que não tinha intimidade nenhuma com esse veículo, mas ao qual adorou a sensação de liberdade e a paz de aproveitar essa liberdade sem ter que conversar ou dar atenção ao motorista.
Ambos abusaram do charme e foram se conquistando em seguidos encontros regados a vinho, ostras e doces... tudo ia muito bem, se divertiam juntos, riam, contavam histórias de tempos idos e programavam tempos a vir. Mas como todo relacionamento que começa no mundo paralelo, quando menos se espera esse mesmo universo virtual se encarrega de interferir , e agiu sobre os amantes.
Alice percebendo que era só mais uma das conquistas de Dr. Galo resolveu cortar o mal pela raiz e o único contato permitido era o telefone, meio mais direto e intimo, onde poderiam combinar os próximos passos e trocar mensagens que só a eles interessavam. De vez em quando até trocavam mensagens pelo site de relacionamentos ao qual se conheceram, Alice adora poesias e as musicas permeiam suas experiências e, ela não se furtava destas demonstrações de carinho e admiração. Postando-lhe Neruda, Alice Ruiz e músicas que lhe lembravam os momentos que passaram juntos.
Mas como toda mulher, Alice também gostava de mostrar suas conquistas as suas amigas, já curiosas em conhecer o tal Dr. Galo que monopolizava a atenção da amiga. Foi quando num desses passeios virtuais descobriu, sob os olhares das amigas, que todas aquelas mensagens carinhosas que havia mandado ao Dr. haviam sido apagadas, todo e qualquer rastro seu foi deletado daquelas páginas, enquanto que outros recados, até mais insinuantes que os seus mantinham-se intactos.
Aquela atitude incomodou Alice e estava longe de ser compreendida por ela. Como não era mulher de deixar passar em branco o que lhe incomodava, foi ao Dr.Galo perguntar o porquê desta exclusão.
Não obteve respostas, somente o silêncio, que depois de dois dias de espera já nem incomodava tanto, mas que deixou mais uma mancha de decepção em sua alma. Não conseguia entender porque não se podia demonstrar carinho entre amantes. Porque isso afastava ao invés de aproximar.
Agradecia a todos os Deuses por não ter se envolvido por demais, agradecia a sorte de ter descoberto esse lado ciscador do Dr. Galo, e agradecia a si mesma, por não esmorecer e ainda acreditar em poesia. Sabia que se deixasse de crer que poesia e romance andavam juntos, já não teria amor pra dar e muito menos a receber. Se Dr. Galo não conseguiu entender a alma de Alice, é porque não a merecia e não poderia amá-la como ela gostaria de ser amada.

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