domingo, 30 de agosto de 2009


O encontro daqueles dois foi explosivo, não só pela excitação que sentiram como também pelo álcool que haviam consumido. Quando Alice se deu conta estava aos beijos com Augusto, ali no meio de um bar quase vazio, cercada de amigos, na finaleira da noite. Dos beijos as carícias foi um pulinho e só não chegaram as vias de fato porque provocaram uma pane no carro último tipo de Augusto, fazendo com que a noite terminasse numa carona vexatória acompanhados de mais seis amigos solidários em um modelo POP, o que renderia muitas histórias e risadas por um bom tempo.
Ambos sabiam que certamente se encontrariam novamente, a qualquer momento, pois moravam no mesmo bairro, freqüentavam o mesmo lugar e tinham amigos afins.
Nesse hiato de tempo Alice começou imaginar várias cenas desse rencontro, como seria ficar cara a cara e de cara com Augusto, já que nenhum dos dois procurara alguma forma de contato depois deste episódio.
Em Alice se instalou uma curiosidade e certa ansiedade mental, que formavam um caleidoscópio de possibilidades, em um pólo concluiriam o que começaram, embora Alice não soubesse se era isso mesmo que queria, de outro sem o efeito de várias doses as coisas poderiam mudar completamente de conceito,já que a velha piada do efeito das pessoas depois de algumas doses era uma verdade óbvia...e, entre esses pólos imaginara diversas nuances de fantasias que acalentaram algumas de suas noites solitárias.
Chegara enfim a lua nova e junto com ela, o momento da descoberta.
De cara Alice esperou o momento em que ele entraria pela porta, e à sua entrada Alice logo sentiu o clima de constrangimento que surgira entre os dois, sem falar que eram o alvo daqueles seis amigos, lembram da carona?
Mal se cumprimentaram e cada um seguiu a noite em um canto, numa festa diferente, de vez em quando os olhares se encontravam, mas nenhum dos dois se moveu ou tomou uma atitude em direção ao outro.
Certamente esses dois estão até agora digerindo esse episódio, sabendo que teriam um próximo encontro e que nenhum dos dois conseguiria prever que estava para acontecer.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O nada óbvio mundo masculino


Ah! Os homens, que seres mais estranhos e indecifráveis eles são!
Nas conversar entre amigas o assunto é ou acaba sendo o insólito mundo masculino,que por vezes deixa a mais racional das mulheres confusa e sem saber como proceder, frente as situações mais estrambólicas e inusitadas em que eles se metem.
A velha máxima de que "todos os homens são iguais" caiu por terra quando o grupo de amigas de Alice se reuniu para um happy hour que quase se transforma numa bad trip. Conversa vai, conversa vem, entre uma e outra rodada de chopp começam a dedicar tempo de filosofia de botequim sobre o objeto de desejo de 99% de mulheres... O óbvio mundo masculino.Começam as confidências e nesse momento Marjorie declara, entre assustada e excitada, que estava tendo um caso com um homem casado e conhecido de todas as amigas presentes. O silência instala-se na mesa, algumas temem por seus maridos herois de Atenas,outras pelos maridos das outras.
Confusão armada, começam as especulações, cada uma tem um palpite e como não chegam a nenhuma conclusão,Marjorie é intimada a dizer o nome do "Santo".
- O nome do "Santo" eu não digo, mais posso contar um detalhe...
Excitadas pela curiosidade e pela nova rodada de chopp que acabará de chegar a animação do grupo já atiça a atenção e a curiosidade das mesas ao seu redor.
Foi quando Marjorie joga a bomba: - Ele tem um piercing naquele lugar !!!!
Na mesa ao lado ouve-se um copo espatifando-se ao chão, novamente o silencio instala-se na mesa. Atrás de Marjorie está nada mais, nada a menos, do que a esposa do dito "Santo", que nem fora percebida pelo grupo. A frente de Marjorie, Alice tenta se refazer do susto de saber que seu nada "Santo" amante, aquele que ela dedicara a tarde em orgias e fantasias era o alvo daquelas duas mulheres.
Alice lembrou no ato de Nelson Rodrigues que acreditava que a unanimidade é burra e pensou que nem todos os homens eram iguais, alguns são bem piores.
Quanto as meninas ?
A esposa sai correndo aos prantos do bar e deve ter provocado a maior briga em casa. Marjorie ficou em choque e recebeu o apoio das amigas, sempre solidárias. Alice se safou da vergonha pública de também ter caído na lábia do "Santo"! Prometendo a si mesma ficar mais esperta e safa daqui para adiante.
E quanto a ele ?
Ficou sem as três, mas logo ...logo reinicia seu harém. A vida é assim.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009



Ao sol de uma linda manhã de domingo, Alice pegou o jornal e logo procurou sua coluna preferida, a seção de Horóscopo, que assim dizia: “Há coisas que não são para serem entendidas, mas sim aceitas e vistas como uma oportunidade de crescimento”.

Naquele momento Alice sentiu sua ficha caindo... Pressentiu que estava muito perto de conhecer suas motivações, aquilo que a impelia, a inquietava, aquilo que a fazia perder noites de sono em pensamentos sem fim.

Todo essa inquietação tem um motivo de ser - Pensava ela.

E nessa hora, ela se viu. Estava tão óbvio, a todo o momento. Mas pela primeira vez ela se viu inteiramente, nua e crua. Viu seu lado mais crítico dizendo ao outro – Olha, eu sou legal seja legal comigo, aja como eu ajo, faça com eu faço, deseje como eu te desejo, veja-me como eu te vejo, goste do que eu gosto – E eram tantos eus, tantos quereres seus, que era difícil ela ver o outro.

Também percebeu as relações humanas, suas limitações, a carga de expectativas que colocamos no outro, as loucuras que fizemos e as muitas vezes que colocamos nossas vidas e nossos destinos em suas mãos.

E nessa visão ela percebeu o que motivava suas atitudes, suas dores, sua incompreensão.

“Há coisas que não são para serem entendidas, mas sim aceitas e vistas como uma oportunidade de crescimento” - Isso não poderia ser uma simples coincidência, soava como uma ordem, uma força imperativa. E veio em resposta exata.

Conselho sábio, apaziguador, justo. Aceitar o outro como ele é, separar o eu para poder ser nós. Receber e dar o que se tem de melhor sem importar para quem ou porque ou se vou receber a justa paga por isso, isto está em sintonia com o universo. Como um bumerangue que começa tão lindo rodopiando pelos céus e se não tivermos cuidado poderá cair em nossa cabeça, devemos promover o que esperamos receber.

Alice já dera seu melhor e também o seu pior, e suas maiores dores físicas, mentais e espirituais proviam do seu pior, disto ela tinha certeza.

Aceitar e agradecer. É tão mais fácil e seguro. Aceitar um sorriso apenas como algo precioso. E assim, Alice renascera mais uma vez. Um pouco mais sábia, um tanto mais calma, mas principalmente completamente em paz.

"Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre"
Clarice Lispector

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A arte nem tão óbvia da conquista.

A vida de descasada tem seus prós e seus contras. Alice já sabia isso, já não era a primeira e, ela sabia, nem a última vez que um relacionamento seu iria acabar.

Essa sua “nova” vida poderia ser comparada às fases de Lua: A cheia era acompanhada da abundância de sentimentos, pessoas e acontecimentos, nas minguantes era tomada pela meditação e pelo ostracismo, já na nova as descobertas, a florescência e finalmente na crescente as inúmeras possibilidades se descortinavam a sua frente.

Em uma dessas fases cheias ela e amigas saíram para a balada, enfeitou-se, perfumou-se e colocou seu melhor decote, a noite prometia e sua ânsia de entrega também. Olhares pra cá, olhares pra lá e nada acontecia. Mas isso não a preocupava, sabia que a lua cheia iria lhe propiciar um belo encontro. E quando menos esperava e nem mais olhares mandava, pintou o carinha que iria lhe encher de beijos e carinhos.

Na arte da conquista a ansiedade afasta, retrai, repele o objeto de desejo. Quanto mais se quer, menos se tem. E Alice a esta altura de sua vida já percebia isso. Assim como percebia também que as palavras e gestos de sedução iriam durar até que fossem pra cama e saciassem seus instintos. Depois disso e perante três palavras fatídicas: EU TE AMO, cessariam as flores, os poemas, as músicas e tudo aquilo que encantava antes no parceiro passaria a ser motivo de desconfiança ou feneceria.

Sua exuberância e sexualidade, as festas, sua segurança e intensidade com a qual encarava a vida, tudo que antes conquistava, após a constatação de que se apaixonara lhe eram tolhidas e muitas vezes seriam o motivo das separações. O que atraia, agora repelia. Isto não estava em sintonia com a natureza, pensava Alice, se você ama uma orquídea lilás, porque querer que ela se transforme numa margarida do campo?

Será que para conquistar temos que esconder nossos sentimentos e essência?

Conquistar não é se entregar... muitas vezes é se esconder, é sonegar. Como entender e conviver com essa incongruência humana.

Alice decidira, sua vida seria uma conquista constante, queria ser conquistada e reconquistada e só seria merecedor do seu amor quem tivesse sensibilidade para perceber, entender e aceitar isso.

Essa música do Chico Buarque e do Tom Jobim, é o retrato de que realmente as coisas mudam...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009



Alice sempre foi uma mulher de muitos amantes, muitas camas e muitos amores.

Alguns tornaram-se grandes amigos, outros apesar da distância deixaram a lembrança de tórridos ou amorosos encontros, mas a maioria se perdeu na estrada e, deles não restou nada.

Entre um amor e outro ela experimentava a vida na sua plenitude orgástica, bebia a vida em grandes goles e saciava sua sede de novas experiências.

Buscava nos corpos o calor que a sua alma exigia, se entregava de tal forma que encantava ou assustava. Delicias de noites, surpreendentes tardes ou aconchegantes manhãs de inverno,onde ela era a Rainha absoluta.

Depois voltava ao seu cotiadiano mais óbvio de casa, familia e trabalho, muitas vezes com o rosto radiante e o corpo satisfeito, outras com um sabor amargo na boca.

Isso não lhe causava culpa ou arrependimento, mas sim um sentimento de poder, de ser dona absoluta de seu corpo e da sua sexualidade.

Se sentia saciada e feliz por não se corromper pela ignorância e hipocresia da moralista sociedade,que nega a si mesma prazeres que transformariam suas vidas.


terça-feira, 4 de agosto de 2009

Alice pôs-se a pensar sobre esse sentimento de não pertencer a nenhum grupo, ser avulsa, estranha a todos e, depender de que “amigos” a convidassem a participar dos seus clãs.
Não era do grupo dos motores, já não pertencia ao grupo das casadas, ainda não havia formado o seu grupo e não circulava pelo grupo familiar. Já estava nos quarenta e recomeçava, tudo de novo.
Esta sensação de isolamento acreditava ser normal para quem com a cara e a coragem escolheu morar longe da sua terra, dos seus amigos e familiares, mas mesmo assim...essa normalidade estava causando dor e confusão.
A vida não é uma festa eterna – pensou ela - você não pode ser convidada para todos os eventos e badalar que nem sino, até porque essa situação se não vem acompanhada de um grupo do qual você faça parte, deixa um vazio enorme!
Mas também ela se questionava sobre as relações que mantinha, em como agia com o outro e de como ele agia ou reagia.
Acreditando ser uma pessoa que tem por hábito se colocar no lugar do outro e ponderar suas razões, ela tendia a agregar e interagir, e não se percebia simplesmente vivendo sua feliz vida sem se importar que solidão estaria vivendo algum amigo. Os colocava em seu colo, partilhava dores e na medida do possível procurava ajuda-los com palavras de carinho, ânimo, conforto, e apesar de seus parcos recursos, suas necessidades mais imediatas, sem perguntar pra que, onde ou como.
Nestes dois últimos meses Alice viu ruir muitas coisas importantes, viu máscaras caindo... Inclusive as suas.
Do seu consciente abriram-se janelas de entendimento das muitas coisas que ocorreram a sua volta. Compreendeu que amigos não são aqueles dos pilequinhos, mas sim aqueles que nos dão a mão e nos guiam, nos ajudam a crescer nas horas mais difíceis. Como nesse momento em que vomito a solidão em letras.

Já não pertenço a grupos, tenho amigos, solitários e solidários, uns poucos que hoje trilham diariamente ao meu lado, os do meu coração que estão distantes, mas sempre tão presentes e importantes.




A eles dedico Paulo Leminski:


eu


quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha

E Gonzaguinha !

domingo, 2 de agosto de 2009

Um segundo olhar sobre o óbviio



Algo incomodava Alice profundamente nos últimos dias, inquieta, pensativa, emotiva... ela não conseguia chegar ao ponto detonador, mas sabia que estava perto.
Revia toda sua vida como flashs de um filme...um não...vários !
Comédia, drama, terror, violência, aventura e pornografia juntos em um só filme, seria um best! Mas nenhum autor conseguira alcançar tal êxito.
Certa noite fria e chuvosa, o sono vagou junto a pensamentos não muito óbvios, que a deixaram inquieta e de sobreaviso. Começou a se questionar sobre o dar e receber na vida, nas relações fraternas, nos relacionamentos mais íntimos.

Lembrou Fernando Pessoa que afirmou que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena" , e verificou que se valia desta máxima poética. Relia seu cotidiano mais óbvio, procurando o que não ficou óbvio em uma primeira leitura.
Nele, ela encontrou pessoas que usaram essa sua disponibilidade para saciar seus egos, seus desejos e suprir suas necessidades mais emergentes, não se dando conta que a vida é um dar e receber infinito.
Uma troca eterna.
É - pensou ela - ultimamente tenho mais dado do que recebido...

Não que isso representasse uma reclamação, mas sim uma constatação de que em algumas de suas relações o individualismo e a competição atuaram de forma inexorável em sua vida. Deixaram marcas que nem mesmo ela havia percebido.

Dar é divino, receber aquece o coração. Saber a quem dar é iquestionável, vem do coração, saber de quem receber já consiste numa colheita, e, em como toda plantação há vários fatores externos que interferem no processo. Chuva, frio, seca, temperaturas tórridas, pragas... nunca saberíamos, sempre algo poderia nos pegar de surpresa.

Alice sabia que precisava abandonar velhos habitos, certas pessoas, e continuar sua busca por suas verdades interiores e seguir reta e tesa em busca da sua lenda pessoal
.






Discreto

até que foi bem discreto
deixando, ao partir, intenso
muito do seu segredo
nem chegou a tempestade,
esses excessos do vento
foi um corte pequeno
nem dor a mais, nem de menos
foi porque tinha que ir
foi porque tinha que ser
mas está aí a cicatriz
que não deixa mais mentir
se foi ou não foi feliz


Música: Chico César
Letra: Alice Ruiz


Adeus