terça-feira, 22 de setembro de 2009

O encontro nada óbvio


René Magritte-Os Amantes 1928


Nada aconteceu como nos melhores prognósticos de Alice. Embora soubesse que estava lidando com outro tipo de homem daqueles a que estava acostumada a lidar e podemos até dizer, jogar, Raul era diferente, infinitamente diferente.

Depois de conversarem e trocarem e-mails que os instigava intelectualmente, em menos de uma semana partiram para o encontro.

Depois de alguns desencontros e atrasos estavam frente a frente, ela inquieta, toda produzida e excitada. Ele já meio alto e cansado das maratonas profissionais e sexuais da semana, não deixou transparecer em nenhum momento o que se passava na sua cabeça.

Dos planos que haviam traçado, só o sexo prometido, intenso e selvagem aconteceu. Embora Alice tentasse se convencer que era assim mesmo, que as promessas nem sempre são possíveis de se concretizarem, uma pontinha de decepção se instalou aí. E daí pra frente não conseguiu mais ficar a vontade, perdeu sua espontaneidade e criou uma leve barreira, que não permitia que ela se mostrasse de forma efetiva.

Raul era um cidadão do mundo, possuía uma vasta cultura, tão grande quanto seu círculo de namoradas e amantes. Lindo, descolado e incrivelmente charmoso, apesar de tratá-la com toda consideração e educação, não conseguia deixar transparecer nem seu agrado, nem seu desagrado. Ele era tudo que qualquer mulher pedira num homem, solteiro, inteligente, charmoso, culto e altamente sexual, mas ele não a emocionara. O que houvera entre os dois, foi um encontro entre macho e fêmea, onde, claro, houve alguma troca intelectual, mas basicamente foi um encontro de instintos.

Uma estranha sensação tomou conta de Alice, procurava respostas e não as encontrava. Não queria ficar só nas subjeções que lhe inquietavam, e a deixava mais confusa ainda, mas era só o que tinha.

Alice optou então, em tomar o caminho inverso a todos que já havia tomado. Decidiu pelo mais fácil, deixar as coisas acontecerem no seu próprio tempo, sem sua interferência, e para ela, deixar-se levar sem ditar regras e formas, era um exercício novo e intrigante.

Mais uma vez Alice se deparou com o nada óbvio cotidiano dos amantes. Onde todas as probabilidades apontam para um rumo e a vida os leva pra outro.

Desejo!
Nem sempre o óbvio para os amantes
é visto como algo previsível
As falas todas decoradas do amor
O brega é o exílio dos amantes
dois corpos com massa se atraem
na razão direta de suas massas

pequenasdosesdoreal.blogspot.com

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